Vozes da Rua
O que é o projeto?
Toda a pesquisa e a produção desse conteúdo é resultado de um projeto de pesquisa e extensão desenvolvido por bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Os PETs são grupos de estudantes de graduação das instituições de ensino superior do país, orientados por um professor tutor, que desenvolvem projetos que buscam juntar ensino, pesquisa e extensão. O PET História da UFSC é formado por 12 bolsistas, que trabalham em diferentes pesquisas. Este projeto foi desenvolvido por nós, os bolsistas Airton da Silveira Filho, Ana Luiza Goularti Brunél e Kassia Rossi, e orientado pelo professor-tutor Tiago Kramer.
Mas como surgiu o projeto e o interesse em pesquisar a população de rua? Tudo começou quando percebemos que existia uma grande quantidade de notícias de jornal que tratavam da população em situação de rua em Florianópolis, e especialmente a ocupação da Praça XV, entretanto, nenhuma dessas notícias tinha espaço para a voz das pessoas da rua; eles não tinham espaço de fala no que era escrito sobre suas existências. Começamos então a pensar, como é que a população de rua se vê? Por que as pessoas em situação estão sempre sendo silenciadas? Como eles contariam as própria histórias?
Para responder a essas questões, elaboramos o projeto e partimos para a rua, a fim de encontrar essas pessoas, conversar, fazer perguntas, e tentar produzir um conteúdo sobre a população em situação de rua, mas que fosse construído junto com eles e levasse em conta suas demandas e opiniões.
Logo, durante o ano de 2018, especialmente durante o primeiro semestre, às segundas-feiras, frequentamos as reuniões do Movimento Nacional da População de Rua de Santa Catarina (MNPR/SC), que acontecem no coreto da Praça XV de Novembro, iniciando às 14h.
O Movimento da População de Rua é um coletivo que luta pelos direitos econômicos, sociais, civis e culturais das pessoas que estão em situação de rua. Eles trabalham construindo espaços de atuação e discussão, e reivindicando políticas públicas. Participando dessas reuniões, conhecemos pessoas, inclusive algumas que já saíram da rua, criamos vínculos, fizemos perguntas e entrevistas e ficamos um pouco mais cientes do dia a dia de quem está em situação de rua.
Nas entrevistas, inicialmente, buscamos respostas sobre como a população de rua se vê, e como eles contam as próprias histórias, mas logo percebemos, conversando com as pessoas que fazem parte do MNPR/SC, que era fundamental um trabalho em conjunto com as pessoas, ressaltando os aspectos mais importantes da vivência na rua. Por isso, mesmo depois de já termos as perguntas a serem feitas durante as entrevistas, adicionamos questões como “O que você acha dos serviços públicos?”, “Como é sua relação com as pessoas que não estão em situação de rua?”, “Você vê ou sofre algum tipo de violência? Como acontece? De quem parte?”, pois percebemos que essas eram questões fundamentais para as pessoas que ocupam a rua como moradia.
Além disso, nossa metodologia envolveu leituras de materiais produzidos pelo ICOM (Instituto Comunitário Grande Florianópolis) e o MNPR/SC, e que fazem um diagnóstico social da situação de rua na Grande Florianópolis.
Por fim, qual a finalidade deste projeto? Qual a sua importância para a sociedade em geral e, particularmente, para as pessoas em situação de rua?
Queremos levar as experiências das pessoas em situação de rua, suas opiniões e suas histórias, para espaços nos quais as suas vozes são silenciadas. Acreditamos que compartilhar o conhecimento produzido na universidade é algo fundamental para a formação da consciência histórica dos indivíduos. Quem só ouve falar das pessoas em situação de rua na televisão, no rádio ou lê sobre elas em jornais e em redes sociais, possui poucos elementos para formar uma opinião baseada no conhecimento e na experiência.
Esperamos, sobretudo, que as pessoas em situação de rua possam se reconhecer no conteúdo que produzimos e que possamos ter nos provado dignos de ouvir o que eles tinham para nos contar. É para elas que esse conteúdo é dedicado.
Construímos um conteúdo digital com a expectativa de que ele possa chegar a um público amplo e diverso e que possa, inclusive, ser utilizado como material didático em ambientes escolares. O material que produzimos pode contribuir para desconstruir preconceitos e para confrontar discursos sensacionalistas. Este conteúdo é a nossa forma de demonstrar que o conhecimento produzido na universidade deve contribuir para um diálogo público qualificado, o que é fundamental para o exercício da cidadania em uma sociedade democrática.
O que é a População em Situação de Rua?
Mas, afinal de contas, o que é a população em situação de rua, ou pop rua, como as pessoas nessa situação se denominam? Porque não falamos em moradores de rua ou mendigos? A escolha do termo “população em situação de rua” é algo que vem diretamente das pessoas que se encontram nesse contexto, e por isso optamos por usar essa nomenclatura. Ninguém mora na rua, porque a rua não é uma casa; e definir a existência de uma pessoa baseada apenas no lugar onde ela habita, as coisas que possui ou suas formas de subsistência é desumanizador e ignora problemas que são públicos, de toda a sociedade.
Sendo assim, não há uma caracterização definitiva da população de rua, pois são múltiplas e particulares as razões que podem levar uma pessoa a estar na rua; entretanto, existem algumas condições básicas que podem ajudar a identificar alguém como estando em situação de rua. A inexistência de moradia regular e a utilização da rua para habitação e sustento é certamente o mais fundamental, mas a pobreza extrema e a fragilidade de vínculos familiares também são presentes.
Entendemos, então, que a situação de rua é delicada e que deve ser tratada com responsabilidade, mas que nem por isso deve ser tirada das pautas de discussão e marginalizada. Tentar compreender a conjuntura que cerca as pessoas que estão no contexto da rua, quais são suas dificuldades e como elas estão criando espaços de visibilidade para que suas vozes sejam ouvidas, são questões que fazer parte da nossa proposta, e convidamos a todos que entrem em contato com esse material façam parte dessa discussão.
Por isso esse material interativo é composto de alguns textos com explicações sobre conceitos e nossa pesquisa, mas também entrevistas que realizamos com as pessoas em situação de rua que ocupam a Praça XV de Novembro, no centro de Florianópolis.
Agora você pode navegar por nosso mapa interativo, e dentro dele ter acesso a informações sobre lugares que as pessoas em situação de rua frequentam, assistir entrevistas, e ouvir a opinião da pop rua sobre diversas temáticas.